sábado, 31 de outubro de 2009

Dia de Finados

Marguerite Yourcenar in O Tempo Esse Grande Escultor

Uma criança que tenha nascido numa família católica da Europa Ocidental lembra-se de ao menos uma vez ter ido ao cemitério no Dia de Finados, por tempo certamente frio, triste e cinzento. Na véspera, era o Dia de Todos-os Santos, festa segunda de algum modo, que não se celebra como a Páscoa ou o Natal, com presentes e comezainas, mas que se sabia honrar aqueles mortos oficialmente subidos ao céu. Claro que havia milhares e milhares de santos. Mas havia também, sabia desde logo a criança, milhares e milhares de mortos com destino menos conhecido, e estas vinte e quatro horas do dia 1 de Novembro pareciam curtas para celebrá-los a todos. Mortos subidos ao céu, eles também, mas não beatificados, sem que portanto ficássemos totalmente sossegados a seu respeito, mortos com passagem pelo Purgatório ou para sempre no Inferno, mortos dos tempos pagãos, mortos de outras religiões, noutras partes do mundo, ou nestas. Mortos simplesmente, tão mortos como o cão ou a vaca que não reencontráramos nas férias e de quem nos tinham dito apenas que haviam estoirado.
No que me diz respeito, confundo essa longínqua visita ao cemitério com exposições de crisântemos, essas grandes bolas que enchem as sepulturas bem tratadas, por serem a única espécie que nessa estação oferecem as floristas, a não ser que se escolha uma dúzia de rosas que murcham depressa demais para fazer vista.
É certo que havia algumas pessoas de luto que pareciam mesmo tristes. Mas o que se via sobretudo (e os olhos de uma criança são impiedosos) era pessoas bem vestidas dizendo bem ou dizendo mal dos arranjos florais das outras sepulturas aí deixadas pelos proprietários de “concessões” vizinhas. E não esqueço o sobressalto de horror, tantas vezes sentido nos cemitérios em França, provocado pelas flores espetadas em cornucópias de papel, mortalhas em que irão apodrecer, com a etiqueta de um bom florista, lá postas por pessoas que não gostam nem dos mortos nem das flores, abandonando-as sem uma pinga de água ou sem as espalhar amigavelmente pela terra ou pelo mármore dos mortos. Tinham-se contentado com a compra dessa espécie de ramos – cartões-de-visita (o que é preciso tem de se fazer), pousando-os talvez, caso conservassem um resto de fidelidade aos usos piedosos, com um discreto sinal-da-cruz, antes de se afastarem logo que a decência o permitia, visto o tempo em Novembro não favorecer longas permanências nos cemitérios.
O que a criança, entre aborrecida e desagradada não sabia, é que estes ritos outonais se contam entre os mais antigos celebrados na Terra. Parece que em toda a parte o Dia dos Mortos se situa nesta estação, depois das últimas colheitas, quando o Sol descoberto dará supostamente passagem às almas estendidas à sua guarda. Da China à Europa Setentrional, o morto enterrado, muitas vezes com um tufo de ervas por cima, assegurava a fecundidade dos campos e protegia contra as incursões do inimigo, como os ossos do velho Édipo no seu Tholos de Colona. Hoje, no entanto, o seu retorno anual num momento em que a subida para os vivos é mais fácil, é ao mesmo tempo temido e desejado pelos seus descendentes. Todo o rito tem duas faces: oferecem-se de boa vontade as dádivas destinadas a assegurar a sobrevivência do morto, e também a neutralizar a nocividade que adquiriu ao tornar-se morto, mas espera-se que, passada a festa do reencontro, ele regresse ajuizadamente à sua morada de terra. Os ritos do Dia de Finados são ao mesmo tempo os do calafrio e os do amor. Na Finlândia, mostraram-me nesse dia postos indicadores e placas com nomes de quintas isoladas deslocados ou cobertos de panos, para evitar que os espíritos desorientados pudessem voltar a instalar-se nas suas antigas moradas. É um facto inconfessado e quase inconfessável que os mortos mais queridos se tornam ao fim de alguns anos, ou mesmo de alguns meses, intrusos na existência dos vivos, que mudou. Assim o quer, não tanto o egoísmo ou a ligeireza dos homens, mas inevitavelmente a lei da própria vida.
Esta regra das comemorações fúnebres outonais tem as suas excepções. Uma das mais belas festas dos mortos, o festival Bön, que é budista, realiza-se no Verão e consiste em largar no mar centenas de minúsculas urnas onde brilha uma lamparina, imagem da nossa longa e precária viagem para a eternidade. Talvez menos simbólicas, excepto que são também emblemas da luz perpétua que desejamos para os mortos, as lanternas que se alumiam na noite de Natal nos cemitérios da Escandinávia ou da Alemanha, como quem procura fazer participar amigavelmente os que já não estão na alegria e nas acções de graças dos vivos. Nunca mais se esquecem, depois de as ter visto uma vez a caminho da aldeia iluminada, essas chamazinhas reflectidas no gelo do chão ou iluminando os cristais da neve. Uma outra excepção à regra das festas outonais é a celebração quase laica do Decoration Day, que se realiza nos Estados Unidos no fim de Maio e consiste de pôr flores nas sepulturas. Do ponto de vista da horticultura, a época é bem escolhida: não só há muitas flores, como o entusiasmo dos jardineiros amadores se pode estender dos seus jardins para o cemitério. Na Nova Inglaterra, região onde a Primavera é tardia, faz-se muitas vezes o primeiro piquenique da estação. Sem chegar ao costume de vários países islâmicos de beber e comer junto das sepulturas, a alegria dos vivos contém assim um pensamento em sua intenção.
Mas o verdadeiro Dia de Finados nos Estados Unidos é a mascarada burlesca e tantas vezes sinistra de crianças e adolescentes, o Halloween, outra festa do Outono, que se festeja na véspera de Todos-os-Santos, que é também véspera do primeiro dia do mês de Athyr do Egipto Antigo, dia do aniversário da morte de Osíris assassinado pelas forças do Mal e assim tornado deus dos mortos. Hallowed all: todas as almas sejam santificadas. Ninguém, salvo alguns eruditos, conhece o velho sentido etimológico da palavra nem liga este sabbat desordenado à festa dos mortos, mas as verdadeiras festas, que se encontram mais profundamente enraizadas no inconsciente humano, são as que se celebram sem saber porquê.
No Halloween ninguém vai aos cemitérios nem os decora. É um dia de alegria infantil, em que as mães preparam para os seus meninos máscaras ingénuas por vezes lúgubres: não deve haver americano que se não lembre do encanto com que um dia usou um chapéu de chamas do diabo, os bigodes e o rabo de um gato, ou o branco esqueleto em fundo de tecido preto, cândido prenúncio das metamorfoses. Assim ataviados, ou então de bruxa, de drácula, de fantasma embrulhado num lençol ou de super-homem, mas sempre com as suas máscaras, lá vão mendigar bombons de porta em porta, disfarçando a voz e ameaçando os vizinhos que lhes recusem os doces ou lhes dêem muito poucos. Crianças mais velhas e adolescentes juntam-se a eles ou organizam grupos rivais também mascarados e chegam muitas vezes a vias de facto: vidros partidos, ou sujos, ovos atirados às portas e às janelas, móveis de jardim partidos, postigos rebentados para roubarem a garrafa de uísque desejada. Por vezes, surgem partidas atrozes por parte de adultos irritados com as intrusões: falaram-me de bolos recheados com sabão da barba ou com fezes, ou até enfeitados com vidro moído. É também a noite em que as raparigas se arriscam mais, à saída de uma dança, a serem violadas ou até estranguladas atrás de uma sebe.
Nas estradas mudam os sinais de sítio como, por outras razões, na Finlândia. Por mais um regresso inconsciente a um antigo rito, uma árvore, sempre a mesma, no centro da terra onde moro, é coberta de tiras pelos rapazes, que as penduram em todos os seus ramos, mas que, por comodidade ou talvez por intenção escatológica, consistem de uma profusão de papel higiénico em vez das tiras de linho ou de papel de arroz próprias de outras civilizações. O que era fervor tornou-se troça. Neste grande país que se julga materialista, estes vampiros, estes fantasmas e esqueletos do carnaval de Outono, ignoram o que são: espíritos de mortos à solta que as pessoas alimentam para os enxotar com um misto de brincadeira e medo. Os ritos e as máscaras são mais fortes do que nós.
1982

hello wind


Hoje o amanhecer foi cinzento, húmido e nebuloso. Foi neste cenário que caminhei pelas ruas deste bairro, agora meu, e que me pareceu cristalizado numa aura nocturna.
Depois de umas horas de leitura que roubei ao sono, na esplanada habitual, um menino de boné e camisa clara veio sentar-se na minha mesa, à minha frente. Levantei a cabeça do livro e ele olhava-me com uns olhos penetrantes e cara séria. Parecia sondar-me. É difícil aguentar o silêncio de uma criança que nos fita e saiu-me um “olá”, seguido da pergunta mais palerma: que idade tens? Quatro anos, respondeu o pequeno. Perguntei-lhe logo de seguida o nome, como se tivesse infringido uma hierarquia qualquer na importância das coisas. Rúben, respondeu. E em seguida, perdendo o ar sério e recuperando a expressão que julguei adequada à sua idade, factor que me fez descontrair, disse-me num português tacteado: “O meu primo, morreu por causa de um guindaste. Bateu-lhe na cabeça, disse fazendo o gesto de um soco em si próprio, e ele foi para o céu. Eu não. Eu só vou quando for velhinho. E agora vou para ao pé da minha mãe, está bem?”, e foi.
Já não consegui ler mais. Outros textos se apoderaram de mim. Mas ele voltou. Com ar de criança, muito sorridente, voltou a sentar-se. Perguntei-lhe: gostas da mota? Ele respondeu: sim, mas não tenho dinheiro. Peguei numa moeda e dei-lhe. Enquanto andava na mota mesmo ao meu lado sorria-me e gritava-me adeus enquanto acenava. Quando acabou a mãe disse-lhe que fosse dar um beijinho à senhora e dizer obrigada. “Não é uma senhora, respondeu ele. É uma menina.” Deu-me um beijo e ofereceu-me a outra face apontando com o dedo e dizendo, dá. Disse-lhe que era muito simpático e despedi-me com um “até à próxima” que ele repetiu. E desapareceu na esquina com a mãe, sempre virado para trás a acenar com um sorriso.
Perguntei-me porque uma criança que nunca tinha visto se veio sentar na minha mesa neste dia e o porquê de ter escolhido este tema repelindo assim a minha conversa de circunstância. E a beleza com que falou do seu morto, da sua própria vida, que quer longa, e da sua própria morte como um reencontro.
Retomei a minha leitura e quando o corpo já reclamava fui comprar meias a um chinês perto de casa. É uma loja muito simpática. Ao contrário das outras que conheço, parece-se em tudo com um negócio de família. Tem um casal novo, cuja mulher espera uma menina no próximo mês, e um casal de mais idade, pais dele ou dela. O “ancião” não se parece em nada com os chineses secos e funcionais. Tem o ar de um verdadeiro ancião chinês de outros tempos, com um sorriso largo e sincero. Depois de ter pago, e de ter ouvido a conversa sobre o bebé que está para vir, o chinês mais novo disse: menina, venha aqui. Fui. Pegou numa pulseira cheia de símbolos e com aquela espécie de olhos que se associa a amuleto. Gosta mais de azul ou lilás, perguntou. Escolhi a lilás. Era um presente. Agradeci com ar incrédulo e desconcertado enquanto a família toda me olhava a sorrir.

E foi assim, sob a forma destas manifestações tão inesperadas, que a Morte e a Vida me visitaram hoje. Talvez como um desafio a reescrever em mim a relação com as mortes e com a vida. Não as mortes dos mortos. Não são os mortos que morreram que se tornam “intrusos nas nossas vidas”, na expressão da Yourcenar, mas sim as mortes daqueles que não morreram. Quando não conseguimos perceber que, guardando-os, apodrecem dentro de nós fazendo com que apodreçamos com eles e assim a nossa Vida. E que é um mal recíproco.
Volto à manhã e à deambulação até ao café, e na minha memória ela perde o seu ar nocturno. À cor cinzenta, à humidade e ao nevoeiro junta-se agora na minha memória um vento. Um vento forte daqueles que ferem o rosto, cortam a respiração mas que agitam tudo dentro de nós e nos desafiam a respirar de uma forma mais simples.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

uma nota à margem


"Tudo o que vejo parece-me um reflexo, tudo o que ouço, um eco distante, e a minha alma procura a fonte maravilhosa, pois tem sede de água pura.

Passam os séculos e gasta-se o mundo, mas a minha alma permanece jovem; vigia entre as estrelas, na noite dos tempos."


in O Tempo Esse Grande Escultor, no texto Em Memória de Diotima: Jeanne de Vietinghoff

Yourcenar transcreveu aqui uma nota feita pela aquela a quem o texto presta homenagem aquando da leitura de uma obra de Tagore

domingo, 25 de outubro de 2009

da minha viagem com Yourcenar



"Pressentimos que a confiança ingénua e a adesão impessoal se encontram em qualquer lado, naquelas profundezas da natureza humana em que o princípio da contradição [da não-contradição] não penetra"

in O Tempo esse Grande Escultor (O Sonho de Dürer)

fragmentos dispersos de uma Noite sem tempo

Deito-me na cama cheia de livros, um filme e um cansaço. Hesito entre a leitura, o filme e o sono. Estás comigo - sob a minha pele, sobre a minha pele; nos livros, no filme, nesta mão que me escreve tentando apreender-te. Cresceste dentro de mim, num excesso, ao ponto de explodires e te transformares numa matéria etérea que se disseminou por todo o meu ser. E dói - sabes, os traços do teu rosto desvanecem-se; a tua voz ecoa numa distância sem timbre; e as tuas mãos, meu amor. Nunca cheguei a ver as tuas mãos.

Gostava de saber como é ter um eu. Acordar de manhã com a simples tranquilidade ou inquietação de quem tem um dia pela frente.

Há uma parte de mim que não me pertence. Nasceu aquando do meu primeiro olhar-te - momento que vive como um lampejo de luminosidade no meu espírito: uma bolha de Luz amarela. Cuidei dela, numa decisão de que a vontade se absteve, como quem cumpre um destino. E quando a achei pronta quis entregar-ta. Não importava que não te conhecesse pois havia a Luz e uma sintonia adivinhada. Isso é amor, direi eu. Na distância. No silêncio. Na minha ignorância de ti. Na tua ignorância de tudo isto.

Somos vários nos vários papéis que nos cabem. Somos filhos, netos. Porventura pais. Somos amigos, colegas. Somos amantes. Mas uma Solidão prolongada leva todos os guiões para uma periferia da memória. Resta-nos o confronto com os vários papéis que nos cabem perante nós próprios.

Madalena

mudou a hora

sábado, 24 de outubro de 2009

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

a propósito de rosas, para ti

Variação sobre Rosas

Como as rosas selvagens, que nascem
em qualquer canto, o amor também pode nascer
de onde menos esperamos. O seu campo
é infinito: alma e corpo. E, para além deles,
o mundo das sensações, onde se entra sem
bater à porta, como se esta porta estivesse sempre
aberta para quem quiser entrar.

Tu, que me ensinas o que é o
amor, colheste essas rosas selvagens: a sua
púrpura brilha no teu rosto. O seu perfume
corre-te pelo peito, derrama no estuário
do ventre, sobe até aos cabelos que se soltam
por entre a brisa dos murmúrios. Roubo aos teus
lábios as suas pétalas.

E se essas rosas não murcham, com
o tempo, é porque o amor as alimenta.

Nuno Júdice, in Pedro Lembrando Inês

domingo, 18 de outubro de 2009

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

laços subtis

"Pensava, depois, que cada criatura humana entra, sem o saber, nos sonhos amorosos dos que com ela se cruzam ou a rodeiam, e que mau grado, por um lado, a obscuridade ou a penúria, a idade ou a fealdade daquele que deseja e, por outro, a timidez ou o pudor do objecto cobiçado, ou o facto dos seus próprios desejos se endereçarem talvez a outrem, cada um de nós se encontra, deste modo, aberto e entregue a todos."

Marguerite Yourcenar, in Como a Água que Corre - Um Homem Obscuro

terça-feira, 6 de outubro de 2009

o som do Outono

A chuva veio forte por aqui. Ontem enviou um telegrama e, hoje, apresentou-se com toda a sua pujança.
O Outono, no entanto, começou para mim há cinco dias - no momento em que, ao pisar uma folha seca de Plátano, pude ouvir a música preferida dos outonos da minha infâcia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

uma homenagem a "La Negra" - (1935-2009)

A cantora folk argentina Mercedes Sosa, que lutou contra as ditaduras fascistas na América do Sul com a sua potente voz e se tornou numa lenda da música latino-americana, morreu hoje, aos 74 anos.
Carinhosamente apelidada "La Negra" - devido ao seu cabelo preto e à tez morena - Sosa foi igualmente chamada de “voz de uma maioria silenciosa”, tendo sempre lutado pelos direitos dos mais pobres e pela liberdade política.
A sua versão da música “Gracias a la Vida”, de Violeta Parra, tornou-se um hino para os esquerdistas de todo o mundo, nas décadas de 1970 e 1980, quando foi forçada a exilar-se na Europa e os seus discos foram banidos.
As suas imagens de marca eram o seu cabelo comprido e os seus ponchos, que usava durante os espectáculos ao vivo, fazendo ouvir a sua voz poderosa.
Nas décadas de 1960 e 1970, Sosa foi uma das expoentes máximas do politizado movimento Nuevo Cancionero, que quis levar a música folk de regresso às suas origens.
Politicamente, Sosa foi membro do Partido Comunista e as suas simpatias políticas acabaram por a obrigar ao exílio, em 1979 (ano em que Jorge Videla encabeçou a junta militar), depois de ter sido presa - bem como toda a sua audiência - durante um concerto na cidade universitária de La Plata.

texto retirado do jornal "O Público" de 5 de Outubro de 2009

Cancion con todos


domingo, 4 de outubro de 2009

A Salvação de Wang-Fô

Da obra de Marguerite Yourcenar, Contos Orientais

animação retirada do youtube

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A palavra

Na Noite surgiram palavras e silêncios; vinham, perscrutavam-se, iam; de uma quase-sintonia vi brotar um mar, de um azul tão intenso que a linha do horizonte se retirou.
Fui, errante, pé ante pé sobre as palavras e os silêncios em busca d’A palavra.
E um barco ia-se esboçando – como o barco pintado na tela por onde Wang-Fô e Ling se evadiram do Imperador e das suas leis implacáveis.
Já em alto mar, o Silêncio. Tu tinhas permanecido em terra firme, mantendo as tábuas, a Lei.
E eu afundei-me nas águas profundas de um desejo, sem barco;
Agora sou água, meu amor. E todas as palavras se dissolveram em mim.