"Sempre que um cão ladra no silêncio desta rua parisiense, sempre que um automóvel brilha no boulevard não distante, sempre que um vendedor passa apregoando as suas flores, ou uma cigana a sua habilidade em prever o futuro, esses sons, os outros sons, todos os sons da cidade, hão-de procurar convencer-me, é verdade, que tenho direito a recusar a confusão metafísica porque a vida existe para além de mim, porque ela me supera, porque é tão concreta e autónoma que me autoriza a sorrir de toda a ausência e mesmo de toda a presença. Sim, é verdade. Mas esta verdade, só se chega a ela depois de uma indescritível fadiga. E não ignoro o terrível risco de acabar como aqueles que, no jogo da traição, me precederam.
Abandonados pela teologia, encontramo-nos à mercê da Babilónia: o fluir dos dias transforma-se numa armadilha, a pátria cai no esquecimento. O exílio começa."
por interposta pessoa