"Não defendo nenhum dos meus indícios terrestres separadamente, como também não defendo nenhum dos meus versos nem das minhas horas isoladas: o importante é o conjunto. Não defendo sequer o conjunto dos meus indícios terrestres, defendo apenas o seu direito à existência, e à verdade - a minha." Marina Tsvietaieva
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Uma espécie de esperança, uma espécie de espera
Um dia sentar-me-ei tranquila
com as mãos repletas de letras.
Calma, sem crispações.
E as letras hão-de cair sobre o papel,
naturalmente.
E numa canção de roda,
algo infantil,
hão-de dar forma a tudo o que está ainda por arrumar.
com as mãos repletas de letras.
Calma, sem crispações.
E as letras hão-de cair sobre o papel,
naturalmente.
E numa canção de roda,
algo infantil,
hão-de dar forma a tudo o que está ainda por arrumar.
sábado, 2 de agosto de 2008
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
...in memoriam..
Rodin, A Catedral
Uma Espécie de Perda
Ingeborg Bachmann
Usámos a dois: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis de linho e uma cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados, gastos.
Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissémos. Fizémos.
E estendemos sempre a mão.
Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e por Verões.
Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma cama.
Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei o indefinido e senti devoção perante um nada,
(- o jornal dobrado, a cinza fria, o papel com um apontamento)
sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.
De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.
Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a sua cor mais intensa.
A campainha da porta era o alarme da minha alegria.
Não te perdi a ti,
perdi o mundo.
in O Tempo Aprazado
(tradução de Judite Berkemeier e João Barrento)
Usámos a dois: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis de linho e uma cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados, gastos.
Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissémos. Fizémos.
E estendemos sempre a mão.
Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e por Verões.
Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma cama.
Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei o indefinido e senti devoção perante um nada,
(- o jornal dobrado, a cinza fria, o papel com um apontamento)
sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.
De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.
Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a sua cor mais intensa.
A campainha da porta era o alarme da minha alegria.
Não te perdi a ti,
perdi o mundo.
in O Tempo Aprazado
(tradução de Judite Berkemeier e João Barrento)
Elos Sagrados ou A Interdependência de Todas as Coisas
Sempre que baixamos as defesas dos nossos egos – vontades, medos, certos “ideais”, gostos e desgostos, rotinas - a Vida entra por nós adentro, invade-nos, recria-nos, devolve-nos a nossa verdadeira dimensão.
Paradoxalmente (ou não) é na Dor e no desnorte que a Vida, sempre à espreita, encontra as brechas para chegar até nós. Quando, vencidos, nos deixamos ir.
Descobrimos então que cada momento, cada encontro, cada troca tem a sua razão de ser nesta coreografia imensa. Que um gesto aparentemente sem grande sentido “aqui” ganha uma força imensa “ali”. Que uma palavra, um livro, um acontecimento, um conhecimento que nos chegou por via de outrem num dia ou numa noite de meia-luz, e que não nos disse tudo o que tinha para dizer mas que guardámos, vai-se revelar de forma mais plena em outro lugar, em outro contexto, quando o soltamos.
E descobrimos que somos muito mais do que aquilo que cabe dentro da nossa própria pele. Descobrimos que para além de todas as experiências que nos habitam, somos também importantes elos de ligação entre todos os mundos por onde nos movemos, entre todos os seres com quem nos relacionamos e que essa condição de elo é, também ela, uma dimensão sagrada da Vida que existe em nós.
M
Paradoxalmente (ou não) é na Dor e no desnorte que a Vida, sempre à espreita, encontra as brechas para chegar até nós. Quando, vencidos, nos deixamos ir.
Descobrimos então que cada momento, cada encontro, cada troca tem a sua razão de ser nesta coreografia imensa. Que um gesto aparentemente sem grande sentido “aqui” ganha uma força imensa “ali”. Que uma palavra, um livro, um acontecimento, um conhecimento que nos chegou por via de outrem num dia ou numa noite de meia-luz, e que não nos disse tudo o que tinha para dizer mas que guardámos, vai-se revelar de forma mais plena em outro lugar, em outro contexto, quando o soltamos.
E descobrimos que somos muito mais do que aquilo que cabe dentro da nossa própria pele. Descobrimos que para além de todas as experiências que nos habitam, somos também importantes elos de ligação entre todos os mundos por onde nos movemos, entre todos os seres com quem nos relacionamos e que essa condição de elo é, também ela, uma dimensão sagrada da Vida que existe em nós.
M
quarta-feira, 30 de julho de 2008
A Noite
Acaricia o horizonte da noite,
busca o coração de azeviche
que a aurora recobre de carne.
Ele te porá nos olhos
pensamentos inocentes,
chamas, asas e verduras
que o sol ainda não inventou.
Não é a noite que te falta,
mas o seu poder.
Paul Éluard
busca o coração de azeviche
que a aurora recobre de carne.
Ele te porá nos olhos
pensamentos inocentes,
chamas, asas e verduras
que o sol ainda não inventou.
Não é a noite que te falta,
mas o seu poder.
Paul Éluard
terça-feira, 29 de julho de 2008
domingo, 27 de julho de 2008
Portas
Há uma ferida aberta no coração dos dias que o silêncio e a distância não permitem curar.
Depois de sufocar abri as portas. Descobri que a brisa a ameniza. E agora movo-me sem grande consciência ou pensamento. E evado-me das mais diversas formas. E sinto que algo pode acontecer neste presente, suspenso e cheio, onde há uma ferida aberta no coração dos dias.
M
Depois de sufocar abri as portas. Descobri que a brisa a ameniza. E agora movo-me sem grande consciência ou pensamento. E evado-me das mais diversas formas. E sinto que algo pode acontecer neste presente, suspenso e cheio, onde há uma ferida aberta no coração dos dias.
M
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Sintonias - Quadro Movimento I
A verdade do quadro-movimento não é a de um diálogo sobre algo de objectivo. A verdade do quadro-movimento é a da partilha, da exposição, da apresentação ao outro da forma como a nossa sensibilidade pinta determinado aspecto da realidade.
Há conversas assim. Conversas que se tecem nas palavras, nos olhares, nos gestos, nos silêncios. Conversas em que se é inteiro e, em que inteiro, se escuta: o outro, o mundo, nós próprios.
Momentos sem crispação em que espelhamos e somos espelhados. Momentos em que o tempo se revela na sua mais sagrada dimensão – a de presentificar (presente tempo, presente dádiva). Momentos que dispensam os relógios, que vivem além do tempo linear e em que nos sentimos, contudo, sempre a tempo.
São como espelhos que nos devolvem o melhor e o pior de nós próprios sem arestas. Que nos dão a dimensão da vida como um eterno bailado onde soltos, procuramos o equilíbrio. Momentos em que nos esculpimos, naturalmente, porque sentimos que a vida é isso - uma caminhada tranquila mesmo no meio dos maiores sobressaltos. Uma caminhada em conjunto, mesmo quando se está só.
E nesse bailado em que nos pintamos, esculpimos, a vida vai nos oferecendo a nós próprios, página a página, compasso a compasso,...aos poucos.
M
Há conversas assim. Conversas que se tecem nas palavras, nos olhares, nos gestos, nos silêncios. Conversas em que se é inteiro e, em que inteiro, se escuta: o outro, o mundo, nós próprios.
Momentos sem crispação em que espelhamos e somos espelhados. Momentos em que o tempo se revela na sua mais sagrada dimensão – a de presentificar (presente tempo, presente dádiva). Momentos que dispensam os relógios, que vivem além do tempo linear e em que nos sentimos, contudo, sempre a tempo.
São como espelhos que nos devolvem o melhor e o pior de nós próprios sem arestas. Que nos dão a dimensão da vida como um eterno bailado onde soltos, procuramos o equilíbrio. Momentos em que nos esculpimos, naturalmente, porque sentimos que a vida é isso - uma caminhada tranquila mesmo no meio dos maiores sobressaltos. Uma caminhada em conjunto, mesmo quando se está só.
E nesse bailado em que nos pintamos, esculpimos, a vida vai nos oferecendo a nós próprios, página a página, compasso a compasso,...aos poucos.
M
quarta-feira, 16 de julho de 2008
terça-feira, 15 de julho de 2008
in Fabrizio Lupo
"Sempre que um cão ladra no silêncio desta rua parisiense, sempre que um automóvel brilha no boulevard não distante, sempre que um vendedor passa apregoando as suas flores, ou uma cigana a sua habilidade em prever o futuro, esses sons, os outros sons, todos os sons da cidade, hão-de procurar convencer-me, é verdade, que tenho direito a recusar a confusão metafísica porque a vida existe para além de mim, porque ela me supera, porque é tão concreta e autónoma que me autoriza a sorrir de toda a ausência e mesmo de toda a presença. Sim, é verdade. Mas esta verdade, só se chega a ela depois de uma indescritível fadiga. E não ignoro o terrível risco de acabar como aqueles que, no jogo da traição, me precederam.
Abandonados pela teologia, encontramo-nos à mercê da Babilónia: o fluir dos dias transforma-se numa armadilha, a pátria cai no esquecimento. O exílio começa."
por interposta pessoa
Abandonados pela teologia, encontramo-nos à mercê da Babilónia: o fluir dos dias transforma-se numa armadilha, a pátria cai no esquecimento. O exílio começa."
por interposta pessoa
in Fabrizio Lupo
"E foi por isso que te puseste a escrever?"
"Foi por isso - respondi. - Voltei a casa e, com traços e cores, tentei reconstituir a impressão fugaz; mas, talvez porque em tudo aquilo havia muita literatura, a minha tentativa pictórica falhou. Decidi então escrever."
por interposta pessoa
"Foi por isso - respondi. - Voltei a casa e, com traços e cores, tentei reconstituir a impressão fugaz; mas, talvez porque em tudo aquilo havia muita literatura, a minha tentativa pictórica falhou. Decidi então escrever."
por interposta pessoa
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Mas há a vida
Clarice Lispector
Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida, há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.
Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida, há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.
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