domingo, 30 de agosto de 2009

flâneur versus turista - simbologia versus causalidade




“O Sem Forma habita todas as Formas.
Eu canto a Glória das Formas”


Kabir (Poeta persa do século VI a.C.)




“As pessoas que perguntam constantemente “porquê?” são como os turistas que estão diante de um edifício a ler um guia e estão tão ocupados com a leitura histórica da sua construção, etc., que isso os impede de ver o edifício.” (Wittgenstein, Cultura e Valor, 65)


O turista é o contrário do flâneur. A sua luta primeira é contra o tempo, o santuário da atenção. Na ânsia de tudo conhecer sobre “um espaço que não é o seu”, sobre o que está aí, fora de si, estrangeiro, distinto, irredutível a / não co-essencial com a sua identidade que é um particular de coordenadas distintas, ele mediatiza a sua relação com o que está perante si. Recorre ao guia, ao método estabelecido que é feito da história da coisa e das suas histórias. Recorre também a um circuito de pontos relevantes.
O turista não se perde. Ele anda em grupos que, movidos pelos mesmos interesses de acumulação de factos e explicações estabelecem a cada momento a sua diferença face aos locais, aos monumentos, aos transeuntes. Espelham a sua identidade. E a visita tem um prazo, é delimitada no tempo (e no espaço), tem um final seguro, previsto. Ele não fica, não se detém. Volta intacto ao seu espaço. Traz, juntamente com a bagagem e os souvenirs, conhecimentos partilháveis com aqueles que lhe são “idênticos”. Volta com a ânsia de comunicá-los “aos seus”. E permanece idêntico a si próprio pois a demarcação é o seu limite. E, paradoxalmente, sempre com sede de novas viagens.

O porquê é assim a atitude do conhecimento (ou dos conhecimentos), da instrução. A distância que se coloca como princípio. A “objectividade científica”, em que eu permaneço – enquanto um dos termos da relação – definido, com limites que não estão nunca em causa, que nunca se jogam. A minha individualidade, a minha identidade, definem-se por esta imutabilidade do essencial.

Ater-se ao como, pelo contrário, implica simultaneamente coragem e confiança (se quisermos, confiança epistemológica). Implica uma abertura – a omnipresença da atenção, a contemplação. Implica a transformação do próprio espírito, dos seus movimentos que inscrevem novos desenhos, novas relações. E aí reside simultaneamente o risco e o essencial.
“Aquele que contempla segue vestígios, por isso aquele não é só obrigado a prestar atenção, é sobretudo obrigado a ter prestado já atenção: prática venatória que representa para Benjamin o grande arquétipo do estudo ocioso. Como os nove belos rapazes que caçavam por montes e vales, aquele que contempla, que se entrega à perseguição de vestígios, arrisca-se a sucumbir à sua aura.” (Molder, Semear na Neve, 59)
A imagem do caçador, enquanto aquele que segue vestígios, é assim um outro contraponto rico em relação à imagem do turista.
“Aquele que segue vestígios, aquele que persegue a caça, arrisca-se a transformar-se nela, arrisca-se a esquecer os enleios do sangue e do contrato, os cuidados maternos, descobre que já não pode submeter-se a nenhum desses doces constrangimentos.” (Molder, op. cit., 59)
Assim, o centrar-se no como, enquanto atitude verdadeiramente científica (Goethe), a perseguição de vestígios, exige a ruptura com “o velho estilo de pensamento”, na expressão de Wittgenstein, e que tem como principal referência o princípio da causalidade. Toda a noção de proximidade, tão operante na definição de uma identidade em termos históricos, fica subvertida quando nos envolvemos neste “novo estilo” de pensamento. A atenção ao facto, a perseguição de vestígios, exige viagens sem a causalidade como guia, como método. A proximidade não é um dado é uma descoberta que se revela num comprometimento com essa busca. Num comprometimento semelhante ao daquele que ama, como refere Benjamin no Prólogo à Origem do Drama Barroco Alemão: “E só este [o amante] pode testemunhar que a verdade não é desvelamento que destrói o mistério, mas antes uma revelação que lhe faz justiça.” (17)

Esta distinção goethiana entre o como e o porquê é, como temos vindo a ver, fundamental e as suas implicações são infindáveis, ecoando nas mais diversas dimensões da vida. O combate ao princípio da causalidade, como prática de exterioridade instaurada, que de certa forma lhe subjaz, pode ser lido na Máxima de Goethe:
“Le plus élevé serait: comprendre que les faits sont déjà théorie. […]“ (Máxima 575, in Écrits sur l’art, 14)
Mergulhar assim na obra (da arte como da natureza), atender à sua fisionomia, à sua organicidade, recusar a mediação feita através de toda a teoria – é nisto que consiste a exortação de Goethe, retomada por Wittgenstein, por Benjamin e expressa igualmente nas concepções de Gould.

“Cessez de vous écouter les uns les autres. Essayez tout au moins de vous faire une idée à vous de chaque partition. Et n’hésitez pas à vous y conformer. Ce n’est qu’après avoir formulé clairement cette idée, sans vous référer à quelque prétendue tradition d’interprétation qu’on essaie de vous imposer, que vous pouvez vous mettre à écouter les autres, collègues et maîtres.” (Gould, Écrits I, 110)
Este constante apelo a um comprometimento total, que deve ser lido no cruzamento com uma exigência profunda, também ela comum aos universos em questão, de autodesenvolvimento (indissociável de uma concepção de conhecimento como autoconhecimento), remetem-nos para uma dimensão simbólica.


O símbolo tem esse carácter desconcertante para o pensamento analítico, na sua acepção mais fundamentalista, de pertencer a dois mundos. De se afirmar na sua particularidade e, ao mesmo tempo, conter em si o universal. Ele convoca-nos para uma outra noção de proximidade, que não a proximidade da vizinhança do pensamento causal.
O símbolo exige, deste modo, a participação e a recriação por parte daquele que o acolhe. É nesta medida, que é uma nova perspectivação da dualidade sujeito/objecto e consequentemente da objectividade, que se coloca como exigência o autodesenvolvimento.

Em última análise, a personalidade, como a obra, na encruzilhada entre duas dimensões, está ela própria sujeita a esse movimento interno de definição, de equilíbrio, de novos equilíbrios.
O pensamento, centrando-se na própria coisa, deixa-se, de certa forma, condicionar pela sua forma própria, pelo seu ritmo. Há um movimento interno de vai-e-vém na própria coisa, decorrente dos seus vários níveis de sentido, que impede a sua apreensão num só fôlego. O movimento de respiração, intermitente, descontínuo, é o movimento de abertura, de descida e subida, que permite que a obra inscreva o seu movimento no espírito. O vai-e-vém é não só um vai-e-vém entre os vários níveis de sentido da obra, mas um vai-e-vem entre os movimentos do nosso espírito e os movimentos da própria obra. (Vemos também aqui como se joga a relação objectividade/subjectividade). É ainda este movimento que permite destruir a primeira imagem que fazemos da obra, a primeira impressão da relação empática. Para isso, diz-nos Benjamin, devemos renunciar num primeiro momento à totalidade, devemos descer aos pormenores, fragmentar a obra, mortificá-la.
Esta descida ao nível dos pormenores, mortificadora, fragmentadora, analítica, permite arrancar o objecto à sua cristalização numa configuração familiar – a sua falsa unidade. Esta é a função da análise conceptual, que não deve ser entendida como um fim em si. Ela tem como função última “salvar os fenómenos nas ideias”. E a ideia não é algo abstracto, não é o universal a que se chega como resultado de uma média estatística.


No entanto, negar a causalidade como princípio de pensamento não significa negar que cada acto, cada pensamento, cada atitude ou decisão tenham consequências, e que essas consequências sejam determinadas pela energia daqueles. Não significa negar que existe uma lei complexa de causa e efeito que rege o macro e o microcosmo. Neste sentido, e aceitando que existe, poderíamos mesmo dizer que há uma intuição correcta subjacente à explicação causal do mundo e das manifestações que o constituem – a intuição de que tudo está interligado, que não há acções (em sentido lato) neutras, e isso pode ser compreendido através de uma análise atenta do mundo e de nós próprios.

O pecado que enforma a materialização dessa intuição, a razão que a faz falhar completamente o alvo, é a pretensão de que tudo isto é claro, linear, de que tudo isto opera visível, descortinável num plano positivo, “objectivo”. E é esta assumpção que funda na sua essência as “disciplinas”, os métodos, e que constitui o critério de cientificidade dos mesmos.


(excerto de um trabalho sobre Benjamin, Goethe e Glenn Gould onde, a pressentida sintonia entre os universos destes três autores resultou num feliz e profícuo encontro)

...con(-)vocações...









Creio que a melhor crítica que se pode fazer a uma obra, seja ela de que natureza for, não é de todo uma “apreciação”, mas sim, dar uma resposta.
A apreciação é coagida por vários factores (entre os quais a linguagem gasta, os lugares comuns). É uma re-acção.
Uma resposta, pelo contrário, constitui uma acção. Ela implica no seu processo o ser todo inteiro de quem a produz, ultrapassando assim o universo restrito daquilo que deve ser dito numa apreciação. Ela ultrapassa os limites convencionais da “área” em que a obra se insere, a sua linguagem técnica – a horizontalidade do conhecimento (sem dúvida importante).
Uma resposta (quando o é) é dada pelo ser todo inteiro, a partir da sua individualidade (sempre mutável), do seu carácter e temperamento únicos, e constitui-se através de uma verticalidade autêntica. A verticalidade profunda resultante da polaridade entre os seus Abismos e o seu Céu. E neste tipo de comprometimento, é também a sua individualidade que está em jogo, inscrevendo-se na resposta e deixando que a obra inscreva nela os seus movimentos para a ampliar.
A forma da resposta é irrelevante. Uma resposta a um quadro pode ser outro quadro, uma poesia, uma música. Algo onde possamos ver, nós próprios neste comprometimento, como aquela obra tocou aquela pessoa, que dimensões de si despertou, o que lhe suscitou; que cordas de si fez vibrar.
E talvez o mesmo possa ser dito de uma pessoa.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

pérola do dia

Pessoa, cantado pela Ninfa

Deixo ao cego e ao surdo
A alma com fronteiras,
Que eu quero sentir tudo
De todas as maneiras.

Do alto de ter consciência
Contemplo a terra e o céu,
Olho-os com inocência:
Nada que vejo é meu.

Mas vejo tão atento
Tão neles me disperso
Que cada pensamento
Me torna já diverso.

E como são estilhaços
Do ser, as coisas dispersas
Quebro a alma em pedaços
E em pessoas diversas.

E se a própria alma vejo
Com outro olhar,
Pergunto se há ensejo
De por isto a julgar.

Ah, tanto como a terra
E o mar e o vasto céu,
Quem se crê próprio erra,
Sou vário e não sou meu.

Se as coisas são estilhaços
Do saber do universo,
Seja eu os meus pedaços,
Impreciso e diverso.

Se quanto sinto é alheio
E de mim sou ausente,
Como é que a alma veio
A acabar-se em ente?

Assim eu me acomodo
Com o que Deus criou,
Deus tem diverso modo
Diversos modos sou.

Assim a Deus imito,
Que quando fez o que é
Tirou-lhe o infinito
E a unidade até.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

a cada dia... o mundo













Rotina

Nuno Júdice in Pedro, lembrando Inês

Ao abrir a janela do quarto para outras
janelas de outros quartos, ao veres a rua que desemboca
noutras ruas, e as pessoas que se cruzam, no início da
manhã, sem pensarem com quem se cruzam
em cada início de manhã, talvez te apeteça
voltar para dentro, onde ninguém te espera. Mas
o dia nasceu - um outro dia, e a contagem do tempo
começou a partir do momento em que
abriste a janela, e em que todas as janelas
da rua se abriram, como a tua. Então, resta-te
saber com quem te irás cruzar, esta manhã: se
o rosto que vais fixar, por uns instantes, retribuirá
o teu gesto; ou se alguém, no primeiro café que
tomares, te devolverá a mesma inquietação
que saboreias, enquanto esperas que o líquido
arrefeça.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009



"Breves Mortes"



















Iconografias da alma

Por vezes
no lugar da minha alma
estás tu
e no lugar de ti
está a tua imagem.

domingo, 23 de agosto de 2009

...a todos os espelhos, sem tempo...





The Wedding-Feast in the Shrine of the Nymphs
Marc Chagall in Daphnis and Chloe





Ausência

Nuno Júdice in Pedro, lembrando Inês

Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais - um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser
complicadas, quando nos damos conta da
diferença entre o sonho e a realidade. Porém,
é o sonho que me trás a tua memória; e a
realidade apreoxima-me de ti, agora que
os dias correm mais depressa, e as palavras
ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de
mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.

sábado, 22 de agosto de 2009

um momento

Gosto deste período da manhã. O lugar ainda não se encheu da rotina; agradável, por vezes, mas rotina. Os rostos mais próximos ainda não desfilam por aqui e posso desfrutar da minha solidão que é paz e silêncio no meio deste buliço.
Mas não há como não voltar ao como. De facto já não me interessam os porquês. Aqueles que grito apenas no transe da presença de Pã onde o desnorte me faz preferir a imediatez das perguntas às interrogações. Não, não quero perguntas. Não gosto que mas façam nem gosto de fazê-las. A horizontalidade é para ser vivida intuitivamente, caminhando, sem mapas nem guias. E das interrogações, das muitas interrogações, surge como resposta o passo, o gesto, senão firmes ou convictos, pelo menos serenos. De uma serenidade conquistada, apesar de precária. Uma serenidade em construção.
Mas como?, interrogo-me enterrando os pés no mais profundo da Terra e tentando manter a cabeça o mais próximo possível do Céu. Como?
A vida é relação. Com as várias dimensões de nós próprios e com os outros. E com os outros dos outros. E a interrogação, a verticalidade profunda e autêntica, comprometida, é a via da responsabilidade. O seu (nosso) pathos.

uma alusão...um lugar de mim...













LILITH

"Porque antes de Eva foi Lilith", lê-se num texto hebraico. A sua lenda inspirou ao poeta inglês Dante Gabriel Rosseti (1828-82) a composição de Eden Bower. Lilith era uma serpente; foi a primeira esposa de Adão e deu-lhe "glittering sons and radiant daughters" ("filhos esplêndidos e filhas radiantes"). Deus criou Eva e depois Lilith; para se vinga da mulher humana de Adão, instou-a a provar o fruto proibido e a conceber Caim, irmão e assassino de Abel. Tal é a forma primitiva do mito seguida por Rosseti. Ao longo da Idade Média, o sentido da palavra layil, que em hebraico é o mesmo qu "noite", foi-se transformando. Lilith deixou de ser uma serpente para se tornar um espírito nocturno. Por vezes é uma anjo que rege a procriação dos homens; outras vezes sao demónios que assaltam os que dormem sozinhos ou os que andam pelos caminhos. Na imaginação popular costuma assumir a forma de uma mulher alta e silenciosa, de soltos cabelos negros.

Jorge Luís Borges in O Livro dos Seres Imaginários

Lilith foi a primeira mulher, criada do mesmo barro que Adão e não da sua costela como Eva. Na Astrologia é a Lua Negra.

Noite

Assim a noite, o
céu vazio de estrelas, a própria
luz que te escorre dos olhos,
como lágrimas, encharca o lenço
que guardas no bolso do casaco.

E uma linha
de ecos frios baixa
no céu para onde já não
olhas, pesa-te nos ombros, e
obriga-te a esquecer
todas as ausências.

Nuno Júdice in Pedro lembrando Inês


Feliz Aniversário Fernando,
perturbador espelho, amigo

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Encontros












Os verdadeiros Encontros dão-se sempre no momento certo, ainda que um dos seus traços seja precisamente o de parecerem precoces ou tardios. Fora do contexto.
Porquê? – Porque um verdadeiro Encontro escava as coordenadas, fluidifica. Um verdadeiro Encontro dá-se sob o signo da Fénix.
Se o honrarmos, é Alquímico.

"Sou eu, não tenhas medo"

in O Meio Divino
de Pierre Teilhard de Chardin

Parece-nos tão natural o crescer que não pensamos em distinguir da nossa acção as forças que a alimentam nem as circunstâncias que favorecem o seu êxito. No entanto «que tens tu que antes não tenhas recebido?». Penetremos no recanto mais secreto de nós mesmos. Examinemos de todos os lados o nosso ser. Procuremos aperceber-nos com vagar do oceano de forças recebidas passivamente em que está como que imerso o nosso crescimento. Ora pois, talvez pela primeira vez na minha vida (eu, considerado como alguém que faz meditação todos os dias!) peguei na lâmpada, e deixando a zona, aparentemente clara das minha ocupações e das minhas relações quotidianas, desci ao mais íntimo de mim mesmo, ao abismo profundo donde sinto confusamente que emana o meu poder de acção. Ora, à medida que me afastava das evidências convencionais com que é superficialmente iluminada a vida social, notei que me escapava a mim mesmo. A cada degrau descido, descobria-se em mim um outro personagem, cujo nome exacto já não podia dizer e que já não me obedecia. E quando tive de parar na minha exploração, por me faltar o terreno debaixo dos pés, deparava-se-me um abismo sem fundo donde saía, vinda não sei donde, a onda a que me atrevo a chamar a minha vida. E então, perturbado com a minha descoberta, quis voltar á luz, quis esquecer o inquietante enigma no confortável ambiente das coisas familiares, – recomeçar a viver à superfície sem sondar imprudentemente os abismos. Mas eis que vi reaparecer diante dos meus olhos experientes, o Desconhecido de quem queria fugir. Desta vez, não se ocultava no fundo de um abismo: agora, dissimulava-se por detrás da multidão dos acasos entrecruzados de que é tecida a teia do Universo e a da minha humilde individualidade. Mas era realmente o mesmo mistério: eu identifiquei-o. O nosso espírito perturba-se quando tentamos medir a profundeza do Mundo abaixo de nós. Neste momento, como qualquer que quiser fazer a mesma experiência interior, senti pairar sobre mim a angústia essencial do átomo perdido no Universo. E se alguma coisa me salvou, foi o ouvir a voz evangélica, garantida por êxitos divinos, que me dizia, do mais profundo da noite: «Sou eu, não tenhas medo».

domingo, 2 de agosto de 2009

...do pânico...



















Mais uma vez me visitaste.
Senti a tua aura, ao largo e depois caí no frenesim da tua presença.
Tentei mais uma vez ver-te o rosto,
olhar-te nos olhos e interrogar-te.
“Porquê? Porquê?”,
gritei num transe convulso enquanto me tocavas a tua música impossível.
Sais por momentos, talvez para recuperar o fôlego.
E voltas, voltas sempre com a tua flauta demolidora.
Sei que gostas de contradições e extremos.
De impasses.
Passeias entre os paroxismos do desejo e do medo.
O que te atrai em mim, Pan?
Em que florestas me encontras?